13.10.06

Sonho Negro… flutuando nas cinzas


O breu apodera-se do dia longo… aquele escuro que se apodera de meu corpo e meu coração. Esse frio gélido que já não me arrepia, pelo contrario dá acalmia ao meu coração, á minha alma. Agora vejo que já não tenho mais medo de ti, tu caminhas a meu lado… vem junto de mim acompanhando todos os meus passos – tu acompanhas-me Morte. Morte que tanto apavoras os sonhadores e ambiciosos, para mim és uma amiga leal, que está sempre comigo.
No cimo de um abismo, pode-se recordar um sonho à muito esperado… duas pessoas com um sonho… que só a morte o pode realizar…. Sonhos escuros… sonhos mórbidos, mas nem estes deixam de o ser.

Uma criança que despenha-se de um abismo, cai lentamente, muito lentamente, consegue-se ver o vento forte a bater-lhe na cara, a força da inércia e do peso, a gravidade que a desloca pelos rochedos a uma velocidade estonteante, mas que para nós será sempre lenta a queda…
Vai caindo, caindo… até que o seu corpo embate contra rochedos espinhosos, que já mais se viram ou imaginaram.
O vento pára de soprar, seu som já não se ouve, agora são os corvos que se apoderam de toda a monotonia auditiva… e nem um único grito de algum ser humano se despenhou durante o longo tempo que o corpo vivo levou a cair nem no embate se ouvi um – “ai!”.
Durante poucos segundos, tanto aconteceu… àquela criança… seu cérebro ficou dividido, deixou de sentir qualquer tipo de dor. Seu olho foi empurrado por um dos vértices de uma rocha até ao occipital, explodindo com a pressão. Uma das estacas perfurou-lhe o coração, deixando de existir qualquer tipo de sentimento. Outra escarpa fina perfura-lhe a caixa torácica ferindo os pulmões – como se fosse um balão de ar quente (“afundou”) – deixou de se sentir o tom leve da brisa de seu respirar. Duas pequenas pedras esparsas e espinhosas moeram as vísceras que restaram. Suas pernas ficaram como que pregadas a estalagmites que emergiam do chão, a direita pelo fémur, a esquerda no meio da tíbia e do perónio, poder-se-ia ver a água que emergia de dentro do osso, sua elasticidade não lhe bastou para não se esmagar contra tais pedras mortais.
Sua mão direita, junto ao peito, na qual sempre permaneceu um pequeno terço dourado; na sua mão esquerda, cerrada junto à boca, encontrou-se toda a sua raiva (de quem desvaneceu por ter amado de mais).
Ao seu lado na cabeceira encontrava-se um busto, parecia uma mulher, vestia uma burca negra e trazia um tridente consigo, não tinha rosto nem pés, mas movia-se pelas sombras da escuridão existente no fundo do abismo…
Acompanhei toda a queda, todo o sentimento insuportável que pairava no seu coração e na sua mente e não senti nada…
Nem pena, nem compaixão, nem dor, nem alegria, nada… o vazio foi o que se implantou no meu coração e na minha mente.
Este foi o final da criança não amada e incompreendida.

(Por favor ame todas as crianças, com toda a sua alma e coração, elas são puras e notáveis.)

1 comentário:

betty_boop disse...

Aqui está o mais profundo dos teus textos... um texto muito forte mas muito bonito... muita gente pode nao achar porque nem toda a gente ve a morte da mesma forma... a morte é apenas isso... morte... e é algo pelo qual todos iremos passar querendo ou nao... tambem nao entendem o porque de se fazer tanto floreado de volta da morte... mas a morte nao precisa ser negra, sem vida... pode ser como a descrevest... com muita vida... mesmo sendo a morte...