26.6.06

Noite…

Numa noite escura espero por ti. Entre as nuvens que trazem as chuvas de um Verão tropical, vejo o breu cerrado, não existem estrelas. Vejo luzes cintilantes, ao longe aquela cidade dos sonhos, da paixão imortal, dos estudantes e dos historiadores, parece plasticina, fácil de moldar. Perto as luzes intermitentes de ambulâncias que passam, o som das suas sirenes ecoa no vazio que a noite trás. Aquele silêncio eterno que acalma corações, estremece outros e apazigua o meu… uma noite bela de nostalgia, mais uma no meio de tantas passadas ao redor de uma lareira acesa durante o Inverno rigoroso. A única coisa que se ouve é o crepitar da lenha, sente-se no ar o cheiro de alguém… mas quem? A morte… talvez a vida… o desfiladeiro avizinha-se na grande cidade, existem vozes, risos penosos, tristes, contentes dilúvios de prazer… é um simples funeral que se avista lá á frente, o carro fúnebre no topo da procissão de pessoas penosas. Assim é a vida e a morte, a minha vida, a tua morte, a minha morte e a nossa vida. Se o que sonhasse fosse real talvez em teu olhar existisse o perdão e o amor, mas o teu olhar é negro como o meu.

22.6.06

Ai! Como eu era feliz…

Tudo acontece quando menos esperamos, tudo tem uma forma de aparecer na nossa vida feito um sonho…
O pior mesmo é quando temos alguma coisa ao alcance das nossas mãos e quando nos aproximamos mais um pouco, … perdemos isso que tanto queremos. Outra coisa é o facto do tempo, este tempo maldito, que não passa, que nos apavora, que foge a toda a hora, tempo malvado que só passa quando não queremos, que não passa quando queremos…
Tempo, tempo, relógio tudo está sincronizado na base da porcaria de um calendário, de um relógio, de uma droga de datas, para quê? Era bem mais fácil se fossemos como os indígenas descritos no “Papalagui”. Que não precisavam do tempo para nada, aquilo que lhes apetecia fazer era aquilo que faziam naquele momento e tenho a dizer que éramos muito mais felizes se também não ligássemos ao tempo, ás horas, ao calendário, ás luas, aos meses.

20.6.06

Cansaço…

Depois de um dia cansativo, a vontade inalcançável de esticar as costas na cama macia…
Tantos trabalhos, tantas folhas desorientadas em cima da mesa de estudo, tantos textos espalhados pelo chão, tanto esforço, tantas horas passadas em frente a um portátil, que sem sabermos porquê resolveu parar na altura mais errada, aquela altura em que acabamos de escrever o texto, estamos prestes a guardar e a mer...do computador resolveu ir abaixo sem dizer porquê, nem para quê? Apetece jogá-lo ao ar e depois mandar tudo o que está á nossa frente dar um volta…
Não apetece ver ninguém e só de imaginar que amanhã vai ser um dia longo a escrever aquilo que acabamos de fazer hoje só dá vontade de desistir...
Mas como um professor meu costumava dizer “não podemos desistir”, já que a sorte nos virou a costas (aproveitamos e apalpamos-lhe o cu) por momentos temos que pensar que amanhã o dia trás uma nossa bem-aventurança e com ela a sorte volta.
Só queria um banho quente, um abraço, umas frases de aconchego e um pouco de tempo para mim.
Para ver quem sou de onde venho e para onde vou…

Cansaço estranho este, que trago no peito, avassalador, incompreensível, cansaço de quem já amou, ou ama, de quem já sonhou, ou sonha, cansaço de quem tem olheiras de noites e noites passadas a ler textos e tentar percebe-los, alguém entende isto?

Ai…. Esta vida podia ser diferente… menos amargura…mais aventura…

18.6.06

Estudar e estudar…

Estudar para quê e porquê? Para quem?
Ninguém sabe, ninguém responde, ninguém lê, ninguém estuda, …
Decorar frases de pessoas importantes, decorar palavras estranhas ao nosso simplório vocabulário de camponês nortenho…
Estudar para quê?
Para um dia ser grande, ou para morrer no desgosto de ainda não saber tudo…
Triste desventura, esta de estudante mal amado. Não apetece estudar com o sol na janela, a brisa marítima a deslizar nos cabelos molhados do banho matinal, brilho nos olhos, como alguém que se vê pela primeira vez ao espelho e gosta da figura simples que vê, força de viver nas mãos nada calejadas, paz no peito e o que falta?
Calma e coragem para estudar, para saber coisas que não são interessante, que não dão alegria aos corações mal amados, estudar porque é essa a minha profissão… todos dizem mal da sua…
Eu não sou excepção. É tudo muito maravilhoso até ao ponto dos trabalhos e dos exames. Ai! Não tenho tempo nem para pensar em ti, nem para amar alguém por mais perto que esteja de mim. Não vejo nada a não ser papeis, textos, apontamentos com uma letra quase ilegível. Paz quando me deito por fim de tantas horas na escuridão da noite a fazer um esforço para ler mais este e aquele texto, aquele apontamento, e esta folha que é importante… Ai! Que desventura a minha!