3.10.08

Ossos do oficio

Existem dias em que acordamos enjoados, mal-humorados e outros em que acordamos “felizes e contentes”, também existem dias em que acordamos mais sensíveis…

De facto, existe algo na minha futura profissão (ou actual) que me causa alguma impressão/sensibilidade, mesmo nos dias em que nada faz com que a menina desça dos saltos.

Muitas pessoas perguntam-me como é que sou capaz de trabalhar com ossos humanos. Bem, é fácil de responder: para além de ser uma questão de hábito, quando estamos a trabalhar não estamos a pensar que aqueles restos ósseos um dia foram uma pessoa como nós. E, de facto isso não me causa impressão ou qualquer tipo de “repulsa”.

No entanto, no campo, quando tenho que escavar e levantar uma criança… isso, sim! Já me causa alguma impressão ou sensibilidade ou lá o que queiram chamar – porque eu, não encontro uma palavra certa para designar o sentimento que me percorre as veias. De facto, não consigo ficar indiferente a um esqueleto de uma criança… as ideias começam a fluir aglomeradas a diversas imagens… mesmo que, interiorize que é só um esqueleto existe sempre algo que me faz arrepiar … talvez, por ser simplesmente uma criança, inocente e cheia de vida que morreu cedo demais.

Digamos que se torna mais complicado quando nos deparamos com um esqueleto de uma criança (teria uns 5-6 anos quando morreu) e, que por alguma razão lhe foram cortadas ambas as pernas. Existe sempre possíveis justificações: poderia ser o vestígio de uma cirurgia, um acidente, um ritual (mas era só aquela criança que apresentava um corte longitudinal em ambas as pernas: afectando a tíbia e o perónio). Porque teriam cortado as pernas a uma criança com apenas 5-6 anos? Ou seria um procedimento de enterramento? Foi uma criança que, provavelmente, ainda chegou a correr livre pelos campos, a brincar com as pequenas coisas, a dar as suas gargalhadas e gritos, a abraçar as pequenas coisas boas da vida com todo o seu coração e amor… que morreu antes do tempo… ou… quem sabe… no tempo certo.

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