Olhando para pequenas coisas que pertencem ao baú das recordações, algumas lembranças trazem um modesto sorriso aos teus lábios. Tu sabes e eu também que o fim se avizinha. Quando menos esperarmos já não está lá ninguém na poltrona da casa velha. Onde todos os natais se une a família, já não estará lá a cara com rugas, as mãos trémulas, o cabelo grisalho e o brilho no olhar ao observar os netos e bisnetos a brincarem, rirem, até memos a gritarem ou a chorarem. Um dia sei que não vais estar lá. Um dia sei que não vou ouvir mais os teus conselhos – que por vezes não entendo (é normal da juventude! – como dizes). Quando regresso á cidade e te despedes de mim como se fosse a última vez que me fosses ver desejas-me sorte, dizes para ter coragem, para alcançar os meus objectivos, para viver. Sinto um aperto no coração e uma vontade de chorar que nunca senti antes, vejo-te a sucumbir lentamente. Vejo a morte a abraçar-te aos poucos como que de uma sanguessuga se tratasse. Os familiares mais próximos dizem que temos de estar á espera do pior. Que pior? A morte só leva a dor de quem já sofreu de mais, a morte é o sono eterno. A pessoa continuará sempre connosco, no nosso coração, nas recordações do velho baú, nas fotografias a preto e branco, nos quadros que pairam pela casa velha, no meu coração e no teu também, eu sei que sim. Não há lágrimas que descrevem a dor de não ter, só o coração apertado e o sentimento de breve que nos persegue. E… quando menos esperarmos, só nos vai restar as palavras que um dia foram ditas, as fotografias que um dia foram tiradas, as gargalhadas que ficaram gravadas. O resto será pó!
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